Lothar Matthäus é até hoje o recordista de jogos com a camisa da Alemanha. Na África do Sul, ele já se prepara para atuar como comentarista de televisão durante a Copa do Mundo da FIFA 2010.

Em entrevista exclusiva ao FIFA.com, o Jogador do Ano da FIFA de 1991 falou da seleção alemã, das expectativas sobre o primeiro Mundial em solo africano e dos planos para o futuro.

Matthäus, você fechou recentemente um contrato com a Al-Jazeera Sport, a maior emissora de tevê do mundo árabe, para ser comentarista durante a Copa do Mundo da FIFA 2010. Você pretende continuar trabalhando na mídia no futuro?
Vou continuar trabalhando em atividades relacionadas ao futebol no futuro. É verdade que nos últimos meses atuei mais como jornalista do que na beira do gramado. A minha principal ocupação tem sido em redes de televisão do exterior. No entanto, gostaria muito de voltar a trabalhar como técnico. Mas tenho as minhas condições para assumir um novo compromisso. Recebi propostas bastante concretas recentemente, mas nenhuma me convenceu completamente e não sou o tipo de sujeito que aceitaria apenas tapar um buraco. Continuo esperando pacientemente.

A sua antiga equipe, a Internazionale, conquistou recentemente a Liga dos Campeões da UEFA e está à procura de um novo técnico. Como andam os seus contatos com o clube milanês?
Realmente tenho uma ligação forte com a Inter, mas não tanto quanto com o Bayern de Munique. A presidência do clube mudou, e as pessoas da minha época não ocupam mais os antigos cargos. Quero inclusive aproveitar para dar mais uma vez os parabéns ao clube pela conquista da Liga dos Campeões. Foi uma vitória merecida e eu não sabia para quem torcer naquela partida. Em relação à vaga de técnico, não sou nenhum sonhador. Não acredito que o meu nome esteja sendo cogitado. Não obtive resultados suficientes para isso, mesmo que tenha conquistado alguns títulos.

A Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 está chegando. Quais as suas expectativas para o Mundial?
Espero uma festa do futebol, assim como há quatro anos na Alemanha. Acredito que teremos uma Copa do Mundo pacífica e grandiosa. O evento será realizado em um país que ama o futebol. Tenho certeza de que haverá uma boa troca de energia entre as arquibancadas e os jogadores em campo.

A seleção alemã está entrando na fase final de preparação, assim como as outras 31 participantes. Como você avalia o momento atual da equipe comandada por Joachim Löw?
É difícil ter uma ideia boa de longe. Com certeza, a preparação não foi perfeita. Com a contusão de Michael Ballack, perdemos um importante líder para o torneio. Além disso, os jogadores do Bayern se juntaram muito tarde ao grupo.

Você mencionou a situação do capitão do selecionado germânico. Quais serão as dificuldades de disputar uma Copa do Mundo da FIFA sem Ballack?
É evidente que foi um duro golpe para a seleção, mas o passado já mostrou que uma equipe pode crescer muito quando acontece algo desse tipo. Os jogadores podem se encontrar de novo e se motivar para reagir de forma positiva. Além disso, a hierarquia se renova. Os atletas que já estão no grupo há tempos passam para o primeiro plano. No final, a saída do Ballack pode até ser positiva, de certa forma.

O goleiro titular da Alemanha, René Adler, também não viajou para a África do Sul devido a uma contusão. É mais um baque para a Nationalelf?
Com o Adler a situação não é tão grave. Ele não é uma personalidade tão expressiva quanto o Ballack. É muito triste para ele e fico chateado pelo fato de ele não poder disputar o Mundial. No entanto, não temos problemas no gol. Os três convocados estão no mesmo nível do Adler, que desempenhou um papel fundamental no gol alemão durante as eliminatórias, principalmente nas partidas contra a Rússia.

Você disse que considera os três goleiros no mesmo nível de Adler. Quem você acha que deveria ser o número um na África do Sul?
Antes da contusão do Adler, Manuel Neuer era o seu reserva imediato e Tim Wiese, o terceiro goleiro. Consequentemente, Neuer deve assumir a posição. Claro que o Wiese e o Jörg Butt têm a vantagem de possuírem mais experiência internacional. No entanto, o Neuer jogou uma Euro Sub-21 excepcional. Acredito que ele será um ponto de apoio importante para a seleção alemã no Mundial.

Após a contusão de Ballack, um novo capitão precisou ser nomeado para a equipe. O que você acha do novo comandante, Philip Lahm?
Eu enxergo Philip Lahm como o sucessor do Ballack. A única coisa que me incomoda é o fato de ele atuar na lateral e não no meio de campo. Ele possui todas as características que um capitão precisa ter. Ele se comunica muito bem com os outros jogadores, com a federação alemã e com a imprensa. Isso é importante em uma Copa do Mundo. Ele recebe o devido reconhecimento de todos os lados, principalmente dos seus companheiros de equipe. Isso será um importante apoio para ele.

A Alemanha ficou na terceira colocação na Copa do Mundo da FIFA 2006 e foi vice-campeã da Euro 2008. Até onde os alemães podem chegar na África do Sul 2010?
Logicamente, as expectativas são muito grandes, mas outros países também estão fortes. O que nos falta são talentos individuais capazes de decidirem uma partida sozinhos. Já vimos isso nos últimos anos. Apesar disso, o selecionado germânico ainda é muito respeitado pelos outros países, o que faz com que ele seja muito perigoso. A seleção de Löw tem obrigação de chegar às quartas. A partir de então, tudo depende de outros fatores.

Na sua visão, quem são os favoritos ao título mundial?
A Espanha, atual campeã europeia, o Brasil, atual campeão da Copa das Confederações, e a Argentina são as minhas principais apostas. Os melhores jogadores do mundo estão nessas equipes. A Holanda também tem atletas de qualidade, mas, à exceção de 1974 e 1978, nunca conseguiu brilhar em uma Copa do Mundo. O país tem uma tendência a se autopromover, e isso se reflete no desempenho da seleção deles.

Pela primeira vez, seis seleções africanas participarão de um Mundial. O que você acha das equipes do continente da Copa do Mundo da FIFA e até onde você acredita que a África do Sul pode chegar jogando no seu próprio país e com o apoio da sua torcida?
Pelos jogadores que tem, a África do Sul é a seleção mais fraca. Embora os sul-africanos tenham um bom técnico, também é preciso ter atletas de qualidade. Obviamente, eles têm a vantagem de jogar em casa. Espero que consigam passar da fase de grupos, mas será uma tarefa difícil. Quanto às outras seleções africanas estou mais otimista. Elas têm jogadores que atuam nas principais ligas da Europa. Espero ver uma seleção africana nas semifinais. Há algumas equipes nas quais tenho mais confiança, mas prefiro não fazer previsões. Em geral, espero uma Copa do Mundo cheia de surpresas, o que inclui favoritos sendo eliminados prematuramente.